sexta-feira, 13 de julho de 2012

Uma dose ou duas

"One just escapes
One's left inside the well
And he who forgets
Will be destined to remember"
Nothingman - Pearl Jam


Sexta feira.
Como te detesto.
Detesto como uma amante amargurada. Espero-te a semana toda, mas quando chega só me trás dor e lembranças. Lembranças que são alimentadas pelos encontros de casais na fila do metro, nas portas de prédios, dentro dos bares. Ver essa felicidade, essa cumplicidade, esses sorrisos bobos... só torna tudo mais difícil.
Fujo para dentro de um bar, um clássico “beira de estação”:
Cinza, sujo e velho.
Sento no lado mais longe da porta possível, peço um rabo de galo e viro num gole só.
O vermute e a cachaça dançam suavemente na minha garganta, meu corpo pede mais um.
O segundo já não tem o mesmo sabor, desce como uma bola de fogo. A sensação de nuvens sobe a cabeça e o sangue ferve por todo meu corpo.
Deixo uns trocados sobre o balcão e saio com a cabeça enuviada e cheio de coragem para encarar o frio, encarar a sexta e principalmente encarar a volta pra casa sem você.

Um comentário:

Marcelo Fabri disse...

Legal! Tem a cadência e o espírito de um blues - quiçá um samba da velha guarda - pois reclama da vida com frases bem tristes, arrastadas, devocionais("espero-te", "só me trás", "te detesto"). Mas um punk-blues, eu diria. Bem curto e objetivo. Sem dó nem piedade. Não tem clichê nem hábito de bebum (“beira de estação”, "mais longe da porta possível") que tire o invólucro de uma pequena estória de amor desse texto.