domingo, 24 de abril de 2011

Crème Brûlée

"Y ahora que estás aqui
Yo de nuevo soy feliz
Pude entender que eras para mi
Dejame quererte tanto, que te seques con mi llanto
Que se nuble cada cielo y que llueva hasta hacer charcos
Déjame besarte tanto, hasta que quedes sin aliento
Y abrazarte con tal fuerza que te parta hasta los huesos"
 Quiero - Shakira

A nostalgia a trouxe àquele restaurante, já haviam passado 7 anos desde a ultima vez e, para sua surpresa, não doeu voltar. Sentou em uma mesa que estava do lado de fora, já que não fazia frio como da ultima vez, e esperou o garçom enquanto seus olhos reconheciam algumas coisas e se acostumava com as mudanças, quando cruzou olhares com olhos castanhos tão difíceis de esquecer. Ele estava lá. Tinha certeza, mesmo por aquele breve segundo ela o reconheceu. Ele dentro, ela fora. Seu coração bateu mais forte e, sentiu o frio na boca do estômago, quando ele abriu a porta e sorriu para onde ela estava.
- Oi.
- Oi.
O coração fazia uma sinfonia dentro do peito.
- Quanto tempo.
- É, faz mesmo... quer sentar? Isso, é claro, se não estiver acompanhado... – a voz de expectativa não deixava nenhuma dúvida.
- Não, não estou
O rosto corou e ele sentou também com o coração fazendo a mesma sinfonia em seu peito.
- E a... – sentiu uma dor insuportável só de lembrar da existência dela
- Não! Já terminamos... faz tempo... – E o...
- Também não deu certo.

...

- Chegou faz tempo? Vi sua mãe semana passada e ela não me disse nada.
- Cheguei na terça.
- Ah... e ficará por aqui? – ele cruzou os olhos com o dela rezando para ela não notar o interesse dele nisso.
- Sim, estou voltando. – o coração dele quase doeu de tanta felicidade – Sentia muita falta daqui, da minha família, dos meus amigos... – e de você, completou na mente.
- Hun... – sorriu acanhado. – Também sentimos muito a sua falta por aqui.

...

- Minha mãe me mandou uma foto da Julia, ela esta enorme, né?!
- Sim, aquela garota esta cada vez mais esperta, dará muito trabalho para o meu irmão.
- Se puxar a madrinha....
Ela riu e a tensão quebrou. Começaram a conversar sobre as novidades em suas vidas, como foi no Canadá, como tinha sido em Tocantins, ela tinha ficado de cama por causa de uma pneumonia, ele tinha pego malária... Falaram sobre filmes e sobre a mania dela de não gostar do Almodóvar... livros... amenidades... e a noite passou e eles comeram, beberam, conversaram e riram como há anos não riam e quando se encostavam quase sem querer instantaneamente seus corações batiam na mesma frequência acelerada.

Chegou o crème brûlée e, como espelhos, quebraram a casca com um sentimento triste que acompanha o final de uma noite boa.

Ele se levantou e gentilmente se ofereceu para pagar a conta, nesse tempo uma das garçonetes se aproximou.
- Fico feliz que você finalmente apareceu.
- Oi?!
- É, desculpa a minha intromissão, mas não pude me conter. Esse moço vem todos os anos, no mesmo dia, senta e espera. E hoje você chegou. Fico feliz que você não seja só uma lembrança triste.

O coração dela quase saiu pela boca, seu estômago deu voltas. Ele se lembrava do primeiro encontro.

Ela ainda estava retornando ao normal quando sentiu a mão dele a conduzindo docemente para fora. Ele não queria ir, ela não queria ir. Ele ofereceu carona, ela recusou. Já tinha chamado um táxi. Despediram-se com a promessa de sempre de repetir aquela noite. Ela passou o número novo e perguntou se ele tinha mudado o dele. Não, ele manteve o mesmo, afinal ela saberia onde achá-lo.

Assim que ela entrou em casa mandou um recado.
“Sim, eu também me lembro e ainda te amo”

No outro canto da cidade um coração bateu de forma eufórica.