quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A vida que deveria ter sido...

~ Esse texto faz parte de uma brincadeira que fiz com o meu namorado. Um tema por dia, escolhido entre 5.Como foram temas pensados para serem desenhos e não texto alguns podem ser estranhos mas tentarei adequados a esta proposta.
Tema de hoje: Anel da Morte ~

Ela tinha 17 anos quando disse sim. Seus pais tentaram dissuadi-la, mas isso era impossível. Ela o amava e não podia esperar nem mais 1 dia, quanto mais 1 ano
Ela o achava brilhante, estava fascinada por tudo que vinha dele, e ele a amava muito também.
Amava como ela era independente.
Amava como tinha um sorriso fácil e cativante.
Amava as suas curvas bem desenhadas.
Amava sua inteligência.
Amava seu rosto de princesa.
E principalmente amava a determinação ela tinha em seus sonhos e planos.

Eles se uniram em uma cerimônia pequena, na presença de poucos parentes e apenas 3 amigos. 
Tiveram uma lua de mel rápida pois ele tinha que voltar rápido para o seu trabalho, era um gerente de produção de uma multinacional, ela sentia orgulho dele ser tão novo e já bem estabelecido no emprego, e ele prometeu que ela nunca precisaria trabalhar, e isso matou sua independência, mas ela não ligava, pois ela o amava.

Com o passar dos meses ele foi notando que todos na vizinhança a conhecia, ela tinha um jeito cativante e todos a adoravam. A senhora da quitanda já a chamava por nome, a costureira fazia fiado, o padeiro sempre revelava quais os pães estavam realmente fresquinhos, o senhor que vendia queijo de porta em porta já deixava amostras de queijos, e todos os banqueiros da feira a conheciam e começou a acumular tanto "o" e “os” que o ciúmes dele cresceu. Cresceu a ponto de quase o enlouquecer. Qualquer um que a cumprimentava no bairro era o suficiente para ele ficar bravo. Tinha explosões de ciúmes. Começou a não deixa-la sair de casa. Ficava bravo quando, ate mesmo, amigas iam visita-la. Ligava de minuto em minuto em seu celular quando saia.  Ela até deu razão pra ele e, por isso, matou seu riso fácil, mas ela não ligava pois ela o amava.

Tiveram 3 filhos, até ele conseguir ter o menino que sempre sonhou, e isso matou suas curvas, mas ela não ligava pois estava muito feliz.

As amigas se afastaram com o tempo e por causa do ciúmes dele. Ela começou a não ter muito com quem conversar a não ser com as crianças. Se prendeu em novelas e programas de fofocas. Não via jornal pois a realidade lá fora só a afetava quando aumentava o preço do tomate. Não tinha mais a rapidez nas respostas, o conhecimento sobre o mundo e seus assuntos começaram a ficar enfadonhos. Ele começou a acha-la burra e, com isso, matou sua inteligência, mas ela não ligava.

Os anos se passaram e as rugas marcaram e mataram seu rosto de princesa, mas ela não tinha mais vaidade e então nem se importou.

E depois de todos esses anos ela não tinha mais sonhos, não desejava mais nada. Perdeu os objetivos e a alegria que brilhava em seus olhos. Viu os anos passar, os filhos crescer, o marido com outras e se tornou apenas uma sombra do que era e, apesar viva, ela estava morta.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

E tudo ficará bem...

~ Esse texto faz parte de uma brincadeira que fiz com o meu namorado. Um tema por dia, escolhido entre 5.Como foram temas pensados para serem desenhos e não texto alguns podem ser estranhos mas tentarei adequados a esta proposta.
Tema de hoje: Ninfa do gelo ~

Quando tinha uns 7, 8 anos vi pela 1 vez a neve. Nessa época estava visitando minha avó em São Joaquim, SC, e apesar de ser uma coisa quase corriqueira nas épocas de inverno, pra mim, garota criada em um apartamento em São Paulo, aquilo era mágico. Me sentia dentro de um especial de Natal da Disney.
Sai correndo da cama e tentei acordar minha prima, que, como já estava acostumada, simplesmente balbuciou e me mandou voltar a dormir, mas a emoção de ver aquele branco caindo do céu e cobrindo tudo era grande demais para simplesmente ignorar. Fiquei olhando pela janela maravilhada em ver cada pontinho preto esverdeado tornando branco, olhava para cada parte que ainda não tinha recebido o toque do frio até ficar coberto.
E enquanto eu olhava vi um brilho estranho no meio do gramado. Fiquei com medo, mas ao mesmo tempo fascinada. Pensei em chamar minha prima, pensei em gritar pelos meus pais... mas não conseguia fazer nada, além de olhar fixamente para o brilho azulado, e foi durante essa observação que percebi que o brilho estava ficando mais fraco.
Meu coração se encheu de pânico e urgência. Precisava ir ate lá, ver o que estava acontecendo.
Então calcei uma pantufa e, usando o caminho cimentado que estava com menos neve, corri em direção à luzinha. Quando fui me aproximando vi que emanado aquela luz, estava um corpinho que parecia de uma criança menor do que eu na época, parecia uma fada, apesar de não ter asas.
Era uma pequena ninfa. Era linda e ao mesmo tempo tão frágil.
Quando me aproximei, ela abriu uma fresta dos olhos, num movimento difícil porem notavelmente com medo. Aproximei-me para pega-la, ela se mexeu um pouco tentando lutar contra, mas não tinha forças para isso. Quando a abracei pude sentir seu corpinho gelado, tentei aquecê-la com meu corpo e blusa, mas percebi seu brilho ficar mais fraco.
Comecei a chorar, as lágrimas escorriam pelo meu rosto, uma encostou no corpinho e congelou instantaneamente, e entendi que não era uma ninfa de flores e floresta, como sempre imaginamos, e sim de gelo, ela estava ali fazendo aquela neve toda. Corri para o meio do jardim com os olhos ardendo e os pés encharcados, fiz uma caminha e a cobri com gelo.
Minhas mãos e pés estavam frios, mas não me importava, só queria ver aquele brilho voltar. Me ajoelhei do lado e rezei. Rezei o que conhecia naquela idade. Rezei de forma fervorosa e infantil. Pedi pra anjos, santos, Deus e deuses, pedi para qualquer um que pudesse me ouvir.
Minha mão já estava ficando com os dedos roxos quando senti os dedinhos os envolverem e da sensação fria daquela pequena mão começou a emanar um calor que não aqueceu somente os dedos e sim meu corpo todo. Senti que tudo ficaria bem e ela voltou a emanar um brilho tão intenso que tive que fechar os olhos e quando voltei a abri-los estava sozinha no meio do gramado.
Fiquei ainda por alguns minutos olhando ao meu redor tentando entender o que tinha acontecido, se havia sido um sonho ou não e por anos fiquei pensando sobre isso, e então minha avó se foi, fechamos a velha casa, eu cresci, casei, mudei de cidade, tive filhos, descasei, mudei de Estado, tomei rumos diferentes do que quis e vi minha vida ser virada do avesso e hoje o dia pareceu mais pesado e sufocante e, simplesmente, peguei o carro e sem pensar estava em frente a casa de minha avó.
Abri aquelas portas.
Subi os degraus até o antigo quarto das crianças, sendo invadida pelas lembranças e quando entrei no comodo fechei meus olhos e apenas deixei os pensamentos e memorias se acalmarem, e então senti os pequenos flocos de neve em meu rosto e o mesmo calor daquela luz azulada preencheu o ambiente e agora tenho certeza que, assim como aquela noite, tudo ficará bem.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Free

"I'm like a bird, I'll only fly away
I don't know where my soul is, 

I don't know where my home is" 
I'm Like A Bird - Nelly Furtado 

Ela observava o céu que estava iluminado, azul e repleto daquelas pequenas e leves nuvens branquinhas, um céu que seria ainda mais perfeito se não estivesse sendo visto através de uma janela levemente empoeirada.
Sentia uma vontade louca de largar tudo e simplesmente ir embora.
Não gostava do trabalho, não tinha casa própria, não tinha relacionamento estável há, pelo menos, 3 anos e a única desculpa que usava para não deixar tudo eram seus amigos e familiares, que mantinha mais contato por mensagens virtuais do que pessoalmente.

 O real motivo era o medo. 

Medo de ficar numa situação pior que agora. Medo de deixar a zona de conforto e não poder voltar mais. Medo de perder aquele pouco que tinha... mas afinal o que tinha? Um apartamento de 40m2 alugado no centro, um carro popular de 10 anos que havia sido de sua mãe, um cartão de credito que consumia boa parte do orçamento repleto de coisas que comprava mas não precisava, lugares que ia e não lhe agradavam e bebidas que tomava para acreditar que tudo aquilo valia a pena.

 A angustia de olhar aquele céu lhe apertou o coração.
Um pássaro, desses marrons e comuns, pousou na janela.
A garota o observou e por alguns segundos olhou nos olhos do pequeno animal antes dele voar e, quase que instantaneamente, ela se levantou, pegou a bolsa e saiu.

E era apenas 15:25h.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Por uma linha

Eram 2am e ela revirava na cama.
O calor, o suor e as ideias.
Ideias não, paranoias.
Não podia mais aguentar aquela duvida, levantou e pegou a caixinha.
Não era difícil: potinho, xixi e 3 minutos.
Pronto.
Sim ou Não.

Mergulhou a fitinha e ficou olhando. Uma linha vermelha começou a subir e parou na região controle "Ufa! O teste ta bom. Agora só esperar..."

00:00
Não posso estar. Não tem porque. Não tem como... Como tem, mas não tem como eu ter um filho agora. Não tenho nada estabilizado. Não sou nem casada... - Deu um sorriso de canto - ele nunca se casaria comigo, e nem sei se gostaria de casar com ele...Eu deveria acorda-lo. Ele deveria estar aqui comigo, fazendo isso! Não, melhor não, vou ver o que dá primeiro. Meu emprego!! Não posso largar! Acabei de entrar, vai ficar chato sair de licença assim tão rápido - respira - Será que isso vai demorar muito?

01 minuto

E se for menina? Poderia se chamar Ana Luiza, só pra virar Nalu... - sorri - Poderia colocar um berço no escritório, já que não uso ele pra nada mesmo. Fralda anda com o preço pra hora da morte... Queria ir para Amsterdã ano que vem... Meu Deus, eu bebi a semana passada! E bebi muito!! A Carol vai ter que arrumar uma outra colega de cigarro... E a progressiva? Tenho que desmarcar!... Não, eu não estou grávida, vai ser uma bagunça se eu estiver...

02 minutos

...Mas também seria legal. Já to chegando nos 30, seria uma boa hora, as vezes a vida precisa de um empurrão assim para poder ir pra frente. A Andrea acabou de ter um filho, posso ver o que ela tem, dizem que criança perde muita coisa... Minha mãe não tinha nada quando eu nasci e mesmo assim tive uma infância feliz... Não precisaria me casar com ele, podemos ter um filho assim e se realmente der certo, depois a gente vê...

03 minutos

Só uma linha...
...
É, não estou...

Melhor assim...
...
Melhor assim...


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Encontro desencontrado...


"E nossa historia não estará pelo avesso
Assim, sem final feliz.
Teremos coisas bonitas pra contar.
E ate lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer.
Não olhe pra trás,
Apenas começamos.
O mundo começa agora.
Apenas começamos"

Metal Contra as Nuvens - Legião Urbana


Ela o aguardava ansiosamente. Havia uma inquietação naquele reencontro que ela não conseguia entender.
Ele chegou e buzinou, ela não o deixou entrar por que estavam atrasados, ele não comentou mas demorou pois estava convencendo-se a ir.
Ela entrou no carro já reclamando da música, que ele aumentou só de pirraça e começaram a conversar.
Ele não entendia como era tão fácil falar com ela.
Ela não entendia como era tão fácil ouvi-lo.

Chegaram ao cinema faltando um bom tempo. Ela achou que era mais longe, ele só riu e perturbou por causa da sua falta de localização.
Andaram de forma descompromissada. Ele falando pelos cotovelos e ela apenas sorrindo e ouvindo. Quando ela falava, ele prestava total atenção, porem seus olhos pareciam entrar pelos olhos dela e visitar a sua alma, o que a deixava desconcertada e fazia com que se perdesse no assunto.
Ela não entendia como era difícil lê-lo e se sentia constrangida por aqueles olhos conhece-la tão bem.

Ao entrarem no cinema, ele a cutucou fazendo-a rir.
Ela quis segurar-lhe a mão, mas sentiu que ele não queria.
Ele percebeu a vontade dela, mas resistiu, pois sentiu que não devia.

Ela saiu mais falante do filme.
Ele pagou umas bebidas.
Ela ficou mais risonha e ele mais aberto.
Ela deixou ainda mais clara suas vontades.
Ele se afastou com medo de não conseguir evitar.

Ele a levou de volta com o mesmo espirito que a buscara.
Ela demorou a descer, pois sempre foi difícil dizer tchau pra ele.

Ela fechou a porta na certeza que aquilo não existia.
Ele se foi na certeza de que aquilo tinha apenas começado.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mudanças...

Elas estavam sentadas, uma de frente para outra, sem mais a antiga aproximação. Pareciam duas estranhas, mas guardavam o carinho de anos anteriores e por isso gostavam de se encontrar.
- Pelo que vejo você esta bem! Fico muito feliz!
- É estou. Quem diria...
- ... noiva de um programador...
- é – sorriu – você viu? – mostrou o anel
- Vi sim. Muito bonito, mas nunca achei que ele fosse o seu estilo...
- Ah, eu também não, mas a gente muda...
- Principalmente depois do encantado...
As duas começaram a rir
- Você se lembra dele? Ai ai... e pensar que depois de tudo, descubro que era gay.
- Bem gay! Mas eu já desconfiava e teria te avisado se não tivéssemos...
Ficaram em silencio e só se entreolharam, um sorriso amarelo surgiu nos lábios
- Ah, mas as coisas mudam

- Ouvi dizer que desistiu daquela franquia, mas você sempre quis ter um negocio seu, o que aconteceu?
- A vida deu algumas voltas e apareceram outras prioridades, com o casamento, casa, muita coisa para arrumar e pagar e ai, por fim, me vi comprometendo todo o dinheiro que tinha separado para isso. Mas não me arrependo, afinal não tenho pressa.
- É as coisas mudam...

- E o seu livro? Saiu?
- Não, ficou só no mundo das ideias – sorriu sem graça – E a sua viagem?
- Ah, agora não sei – indicou o anel – as coisas mudaram
- Mas ele vai junto, oras. Passear sem rumo pela América Latina sempre foi seu sonho...
- Ele não tem wanderlust
- Jura?!
- Mas um dia faremos algo assim, só que de uma forma mais comum...

O silêncio perdurou por alguns minutos. Elas se entreolharam, buscando algo para continuar, algum assunto em comum, mas eram tão diferentes agora, a unica coisa que as unia era a sensação de liberdade que a companhia transmita.

- Você viu minhas fotos?
- Vi sim, são lindas. Sempre te disse que era fotogênica, mas nunca gostou de tirar fotos – sorri – fiquei feliz que mudou de ideia.
- Não que tenha mudado totalmente, mas... – esboçou um sorriso
Olhos severos a encararam
- Já não me reconheço...

O barulho de passos na escada a despertou.
- Querida, estamos atrasados. – olhou para o quarto e ela estava  sentada olhando para o espelho e vestindo um roupão – ainda não se trocou? Vamos logo ou perderemos a reserva.

Ela olhou para frente e desta vez viu apenas seu reflexo, sorriu para si mesma
- As coisas mudam...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sem drama e sem dor

E então eu desisti.
Simples assim.
Sem o drama.
Sem a dor.
Sem a ausência.
Sem o fugir.
Sem o fingir.
Só desisti.

Cansei de quem só me quer madura. Cansei de quem só me quer quando estou calma.
Sou uma bagunça. Sou confusa. Sou mimada. Sou birrenta.
Sou cheia de tramas e cheia de cantos escuros.

Se não quer ver isso, não posso obrigar.
Mas por mim... eu desisto.
 Desisto de deixar você entrar.

De resto?
De resto vamos levando.
Você não percebendo e eu me afastando.
Sem o drama e sem a dor....